GALILEU – UFSC Blumenau

Estudos recentes mostram que existe uma deficiência na formação dos professores no ensino fundamental, básico e médio em relação aos conteúdos de astronomia. Além disso, como a astronomia entra nos Parâmetros Curriculares Nacionais como um tópico das disciplinas de ciências, muitos professores abordam o tema superficialmente justamente por não se sentirem seguros em relação ao conteúdo. A falta de uma bibliografia específica bem como os erros conceituais existentes em alguns dos poucos livros que abordam o tema faz com que o ensino de astronomia seja negligenciado e prejudicado. Propomos aqui um curso de introdução à astronomia e astronáutica que visa suprir essas lacunas, aberto aos alunos do Ensino Médio interessados no assunto, o qual pode ser encarado como uma escola preparatória para a Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA). Espera-se que o primeiro contato com conceitos de astronomia desperte o interesse dos alunos em participar da OBA.

A Astronomia é uma das ciências mais antigas, junto da Filosofia e Matemática, embora sua origem se confunda com a das outras duas. Dado o escopo dos assuntos sobre os quais trata, a Astronomia possui um caráter extremamente transdisciplinar, caminhando pelas diversas áreas do conhecimento, passando facilmente por Física, Química, Biologia, Geografia, Matemática, Filosofia, História e Línguas. Este caráter amplo permite ainda que o estudo da Astronomia seja feito por diversas abordagens distintas, possibilitando a discussão dos conceitos em vários níveis diferentes. De acordo com Nardi , o ensino da astronomia possui diversas características:

• A astronomia, pela diversidade dos problemas que propõe e dos meios que utiliza, oferece o ensejo de contato com atividades e desenvolvimento de habilidades úteis em todos os ramos do saber e do cotidiano da ciência;
• A astronomia oferece ao educando, como nenhum outro ramo da ciência, a oportunidade de uma visão global do desenvolvimento do conhecimento humano em relação ao Universo que o cerca;
• A astronomia oferece ao educando a oportunidade de observar o surgimento de um modelo sobre o funcionamento do Universo, bem como a crise do modelo e sua substituição por outro;
• A astronomia oferece oportunidade para atividades que envolvam também ao ar livre e que não exigem material ou laboratórios custosos;
• A astronomia oferece grande ensejo para que o homem perceba sua pequenez diante do Universo e ao mesmo tempo perceba como pode penetrá-lo com sua inteligência;
• O estudo do céu sempre se tem mostrado de grande efeito motivador, como também dá ao educando a ocasião de sentir um grande prazer estético ligado à ciência: o prazer de entender um pouco do Universo onde vivemos.

A proposta inicial é a de 5 encontros aos sábados, de 4h cada, contabilizando uma carga horária total de até 20 horas, caracterizando um curso de iniciação. Os encontros semanais consistirão de aulas expositivas, demonstrações de softwares de astronomia, realização de experimentos e oficinas, observação prática do céu a olho nu e através de telescópios. Se possível, uma visita ao observatório de Brusque ou ao planetário da UFSC em Florianópolis será agendada.

As atividades e oficinas auxiliam na fixação dos conceitos discutidos em classe. É importante ressaltar que mesmo que o curso seja realizado durante o dia ou que as condições climáticas impeçam a observação dos astros, ainda sim podemos utilizar um software de simulação de planetário para realizar as atividaes, sem nenhuma perda de generalidade. Para tanto utilizaremos o Stellarium, que é de uso livre e de fácil manipulação. Algumas das propostas de atividades que serão desenvolvidas durante o curso são listadas a seguir:

• Oficinas: construção de relógios solares; relógios estelares; determinação de pontos cardeais com o uso do gnômon e bússolas; Estudo de diâmetros angulares com a construção de uma balestilha e determinação da velocidade da Terra.
• Atividades: Estudo de relações trigonométricas utilizando o método de Hiparco para o cálculo da distância da Terra à Lua; Estudo de proporcionalidade utilizando o método de Aristarco para o cálculo da distância da Terra ao Sol; Estudo da relação entre ângulos utilizando o método de Eratóstenes para o cálculo do diâmetro terrestre; Estudo de relações angulares utilizando o método de paralaxe para a determinação de distâncias astronômicas; Estudo de coordenadas altazimutais por meio da observação de satélites artificiais e estrelas.
• Observação do Céu: observações a olho nu de planetas, estrelas e constelações com mapas celestes, chuvas de meteoros, eclipses.
• Visitas: a região do Vale do Itajaí conta com o observatório de Brusque, onde aulas práticas com o auxílio de telescópios podem ser desenvolvidas com os participantes do curso. Além disso temos o próprio observatório da UFSC em Florianópolis, além de seu planetário.

O curso é direcionado aos alunos do Ensino Médio, de modo que certos conceitos físicos e matemáticos possam ser abordados com alguma facilidade. Contudo, a participação de professores da rede municipal e estadual de ensino também é bem-vinda. Uma das propostas futuras é, de fato, ampliar o curso para uma carga horária maior de modo a oferecer um curso de verão de atualização.

Em 2014, o professor de informática Delvaine Pussinini encabeçou um projeto na Escola Básica Municipal Lauro Müller, em Blumenau – SC, trabalhando junto de outros professores os conteúdos relativos à OBA. Como resultado, 73 alunos do 1º ao 9º ano foram premiados com medalhas. Em 2015 outras duas escolas aderiram ao projeto e conseguiram, no total, 20 medalhas.

Geralmente, muitos dos alunos que participaram da OBA nos anos anteriores participam também das edições seguintes, e o nível de dificuldade da Olimpíada aumenta conforme a série do aluno. Assim, é de extrema importância aproveitarmos a motivação destes estudantes pois quanto mais ferramentas tivermos à disposição dos mesmos, melhores serão as condições de preparo e desenvolvimento deles. A participação em olimpíadas de ciências (seja astronomia, física, matemática, etc.) não só incentiva os alunos em suas áreas principais mas também desenvolve o raciocínio lógico, o hábito do estudo, instiga a curiosidade e os prepara para outros desafios.

A OBA pode servir de motivação aos alunos que se interessam pelo assunto mas não têm oportunidade de se aprofundar no tema, e uma preparação específica para a Olimpíada pode ser discutida entre os interessados em participar, como a realização de simulados e provas práticas.

Além da preparação, podemos cadastrar a UFSC como um dos centros para a aplicação da prova, para alunos cuja escola não participa da olimpíada.